domingo, 20 de julho de 2008

A Integridade da Solidão


A Integridade da Solidão
Texto by iohannobosko

Um homem simples, sentado e estático em sua pequenez cósmica. O silêncio ecoava naquela rocha na linha do horizonte.
Iohanna estava a brincar nos desenhos de sua imaginação, absorta entre formas orgânicas e gizões coloridos; __O homem não se incomodava com a nossa presença a uns cinco metros de distância.
Ela percebera que o sol de inverno cozinhava aquele coquinho lindo, quando me pediu que fossemos para a sombra, ficamos a um metro de distância daquela massa viva.
Instalou-se com os seus objetos com tamanha naturalidade, que os seus deliciosos rabiscos, formas e cores; ficavam cada vez mais iluminados.
A quietude daquele homem branco, de queixo quadrado e de expressão zangada, me incomodava e eu estava a ficar inquieto! No momento lia o “O Contexto Social da Arte” de Jean Creedy, Zahar Editores. Ele concentrava... “ O masoquismo de Van Gogh, a morbidez de Nolde, o mundo atormentado de Munck e a obsessão de Nietzche com o sofrimento...”
Aquela cena me reportou ao estado de um projeto em hibernação ou não; __Sabem aquelas coisas que ficam grudadas na parede, um papelzinho dentro de um livro ou rolos de papel num canto de parede! Sendo mais austero, o homem era o retrato do abandono deliberado pelo autor ausente de inspiração.
Aquele senhor, quando movimentava as mãos parecia acariciar os pensamentos. Por vezes achei que cochilava na volúpia da brisa, as vezes, um movimento brusco da cabeça parecia ser sugada pela gravidade.
Trilhões de células estavam congeladas e num impulso de uma estrela cadente, peguei uma caneta e comecei por esboçá-lo.
Iohanna percebia o silêncio bilateral e às vezes me alfinetava com algumas perguntas sobre a forma e cor, e eu??? Respondia usando o código morse lingual. Não foi fácil, pois a expectativa de um flagrante me assustava. A minha posição não era nada estratégica pelo contrário era comprometedora, invasora da privacidade. Esbocei-o rotacionando a cabeça com movimentos cibernéticos. Fiz uma leitura rápida das linhas de ritmo para capturar aquele momento; abortei teorias, didáticas e outras mazelas estéticas. Peguei no cimento, areia e água, ausentei-me da cena e fui para a pracinha. No silêncio elaborei essa versão metafísica da angústia.

3 comentários:

An disse...
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Sara V. disse...

"(...)quando movimentava as mãos parecia acariciar os pensamentos". É exactamente isso que sobressai no rabisco... Gostei dos traços e da tonalidade... dá uma luz de "crepúsculo" como se a alma dele estivesse assim, à média luz, piscando com mais ou menos intensidade consoante o pensamento... Mas à média luz dada a absorção dele na sua solidão, no seu pensamento...

Sara V. disse...

É verdade, vim cá para convidà-lo a ver o meu outro espaço (acho que ainda não tinha convidado, hehe)...

http://tintasdasara.blogspot.com

Abraço

Sara V.

P.S. - É de letras e rabiscos